A vida segue um outro ritmo quando a gente se desliga de todas as cobranças acadêmicas. Mais uma vez paro no caminho para ver se é isso mesmo que quero, se é essa correria e competição sem fim. Se é essa busca por uma excelência que não passa de mediocridade repassada de geração em geração. Essa estabilidade que fica só no papel. Não existe estabilidade na cabeça, na alma (e por mais que eu negue, vivo procurando essa estabilidade). Mas o que importa é a casa, o carro, as viagens pra Europa, aquele monte de livro empoeirado dando um status de intelectual que só fuma maconha quando vai pra chácara nos feriados. Sinceramente já sonhei isso e hoje só me dá vontade de rir de tudo.
"O mercado é exigente, você tem que ter ensino superior, deixa de ser louca e termina logo isso."
Mas não é assim que a banda toca. Eu mandei a banda parar de tocar pra afinar os instrumentos.
Desde que entrei pra universidade bato o pé e levo tiro no peito por reclamar de temas batidos de monografia, dos artigos ridículos e copiados onde só se muda o título, dos debates que nunca foram debates, do comodismo dos alunos e dos professores, da falta de interesse em realmente ajudar a comunidade. Bato o pé e levo o tiro no peito por defender o que acredito e o que acho ser melhor, o que penso que pode ajudar a melhorar o ensino. Mas cansa, gente. Cansa e a gente fica doente. Cansa mais ainda quando a gente vai ficando sem apoio e foi assim que fiquei. O conselho que recebi foi de fazer qualquer coisa pra terminar logo. Bem assim. "A academia só quer saber se você sabe pesquisar, o tema do TCC não vai ser a pesquisa da sua vida". Olha, eu sei que não vai ser meu melhor trabalho, mas como querer continuar na pesquisa quando a única coisa que interessa é saber se você sabe seguir as regras da ABNT? Confesso que tentei aceitar isso de fazer qualquer coisa, mudar linha de pesquisa, esquecer senso crítico, repetir teoria que a meu ver já está derrubada faz tempo. Mas não deu. Não consigo ser como os 99% de alunos de Letras que a universidade forma todo ano sem senso crítico, que pagam para outras pessoas escreverem seus TCCs, artigos e que só querem o ensino superior pro próximo concurso do governo. Desculpa, mas não consigo. E foi uma coisa atrás da outra que cheguei a pensar que esse ano tá me obrigando a parar, pegar leve, repensar, escolher outros caminhos.
Dou aquela espreguiçada na rede, olho o céu azul, com nuvens aqui e ali. Olho pro Mia que anoitece comigo todos os dias. E a pesquisa? Pois é, taí.
Desconstruí a Literatura de um modo que ainda não consegui juntar as peças novamente. No começo deu uma agonia, fiquei sem saber o que fazer, o que falar. Escrevi um email gigante pra minha eterna orientadora e ela calmamente falou pra eu seguir meu tempo. Que eu iria me reorganizar e tudo iria se ajeitar. Ela passando por um momento difícil e ainda arranjou tempo para me fazer parar de correr sem rumo. Maravilhosa, dona C. Maravilhosa.
Estou tentando devagar essa reorganização. Depois da tempestade vem a calmaria, não é mesmo? Uns sonhos vão, outros logo chegam e tomam lugar. A vida segue sem alarde. O balanço da rede tentando acompanhar o compasso das nuvens, o meu respirar também.
A Literatura volta a ser um prazer e a Língua volta com toda sua ambiguidade de sabedoria e responsável pelos melhores prazeres terrenos.