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Memória Sobre uma Jovem

Posso dizer que tenho mais de mil anos, mesmo tendo nascido ontem. E o único defeito que carrego é a memória. Ela não é confiável. Às vezes acho que ilude ao me trazer a lembrança de certa jovem que muito tinha a ver comigo e ao mesmo tempo fazia parecer que eu era a lembrança trazida.
E mesmo desconfiando de minha memória, acompanhe minha história. Que não é alegre nem triste. Porem é rica de sentimentos.
Não lembro o dia, nem hora, muito menos a estação em que nos vimos pela primeira vez. Talvez pelo intermédio de uma amiga, ou se o destino existir, por meio dele.
Ela não me viu. Como sempre acontece. Mas eu sim. E impliquei com ela. Talvez seja meu jeito de suplicar atenção. E ela nada fez. Então abordei um modo mais discreto e educado. E isso sim deu resultado.
Não, não quero fazer disto um texto rimado. É apenas o espírito de um poeta bêbado incubado.
Mas deixemos o poeta de lado, pois o que importa aqui é a jovem que mencionei logo acima.
Nada dela me chamava atenção. E assim eu seguia meus dias. Em uma completa ignorância da vida. Sem saber que essa mesma menina, se tornaria minha grande amiga.
Eu tinha sede de amizade, de compreensão e lealdade. Não, não posso dizer que ela supriu isso tudo de uma vez. Afinal, ela também precisava disso. Nós duas tínhamos que compartilhar.
Acho que não convém dizer o nome, a memória é falha. Mas poderia ser Jéssica, Talita, Juliana, Larissa, Alessandra, Pérolla ou até uma Lorenna da vida.
Ela era eu e muito mais.
Eu nunca deixei de ser uma zeugma. Já ela, era mais que o próprio Soneto do Amigo de Vicinius de Moraes.
Mas uma coisa sempre me chamava atenção, às vezes, ao olhar bem para essa amiga, ela não passava de um bebê, a choramingar no berço. Com medo e raiva deste mundo, que a concebeu sem a mínima proteção.
Eu queria pegá-la, pôr em meu colo e sussurrar em seu ouvido alguma bela canção de ninar. Só que a vida nunca me permitiu isso, eu estava longe demais dela. E o único jeito que achei de estar perto, era mandar frases nas asas do vento.
Ela era eu e muito mais.
Pra ser sincera, depois de algumas conversas, pude ver que ela não era comum. Não era comediante, mas ríamos sempre. Até das piores desgraças que nos aconteciam. Não era psicóloga, mas sempre me ouvia e dizia palavras certas e por vezes decoradas quando eu precisava. Ela não era constante, e graças a Deus por isso.
Mas ela não era saudável. Talvez ninguém nessa vida seja realmente.
Ela era eu e muito mais.
Eu acredito que as piores doenças não são as que estão no corpo, e sim no cérebro. Quanto a pior, eu não sei dizer. Mas que por vezes me batia a vontade de abrir a cabeça dela e tirar seu cérebro, ah isso sim! Talvez isso seja amizade, ou era apenas o meu medo de perder a única pessoa que de certo modo, entendia como eu me sentia.
Volúvel, bizarro, negligente, serelepe, pensabundo, fidedigna, amável e toda sorte de palavras que eu poderia dizer que a definiam como a amiga que tenho. Mas seria injusto, a memória é falha.
Ou o mais injusto seria procurar defeitos onde não quero achar.
Ela não era eu. Mas sempre será muito mais.
Porque, por mais que ela própria não enxergue o imenso valor que guarda dentro si, eu sempre saberei. E disso sempre vou lembrar. Porque é dela a lembrança de certa jovem que muito tinha a ver comigo e ao mesmo tempo fazia parecer que eu era a lembrança trazida.
E mesmo desconfiando de minha memória, acompanhe minha história...

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