Archive for 2013

Varanda

Não, não se busque satisfazer todos os desejos
Pois a vida acaba.
Não, não abrigues dentro de ti
palavras que deves jogar na rua
na praça
Jogue-as ao vento.

Oui, eu jamais deixarei de amar você.
Afinal, jamais existirá alguém como você.
Sim, no mundo ainda há muitas
coisas pra gente conhecer.
Olhe para além da sua varanda.

Oui, busque realizar os sonhos possíveis.
Os impossíveis o destino toma conta.
"se bem me lembro",
te achei onde não procurei nada.
Daí em diante encontrei a paz.

E de hoje em diante os minutos são preciosos.
Sim ou não.
Qualquer um deles me leva até sua varanda.

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Que reste-t-il de ces beaux jours

 
 
Que reste-t-il de nos amours
Que reste-t-il de ces beaux jours
Une photo, vieille photo
De ma jeunesse
Que reste-t-il des billets doux
Des mois d' avril, des rendez-vous
Un souvenir qui me poursuit
Sans cesse

Que reste-t-il de nos amours - Charles Trénet

 
Passei um longo tempo olhando pro teto. Algumas teias de aranhas aqui e ali ajudavam de certo modo a organizar os pensamentos. E pensando bem, os pensamentos nunca ficam organizados por mais esforço ou atividade de concentração que se faça.
Também não consigo deixar o saudosismo de lado. É algo tão forte quanto a Gravidade. Só que dessa vez sinto falta de coisas, sentimentos, lugares e pessoas que sei que nunca mais terei outra vez. Pelo menos nessa vida.
Esse ano fica marcado.
Assim como todos os outros.
Cada um com suas coisas. Cada um com sua vida. Cada um com suas mudanças.
Isso me faz questionar o "pra sempre" que gastamos todos os dias, em algumas horas e com essas pessoas que já se foram. Mas que fique claro que elas ainda estão vivas, ok?
Talvez o mais certo seja dizer "pra agora". 
É mais forte, creio. Mais válido. Mais verdadeiro.
Pelo fator "mudança" que há em tudo, o "pra sempre" acaba vivendo dentro numa balança. E por vezes perde o valor.
A gente não sabe lidar com os outros e não sabe abrir mão deles. 


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Toque Dela

Das coisas (algumas) contraditórias que fazem parte da minha vida. Ou sem contradição alguma aqui.

Posso começar com um “nunca me senti tão sozinha como agora”. Assim, bem rasgado. Com a iluminação fraca, um cinzeiro cheio, olheiras imensas, cerveja quente na minha frente e um pianista alcoólatra tocando notas soltas como se fizesse algum sentido. Já fiquei muito tempo, só a solidão e eu. Era uma prosa boa, rendia muitos rascunhos. Mas hoje já incomoda, feito parente que ninguém gosta de ver. Feito fatura do cartão quando chega.

Antes eu estava em tudo. Nos discos, nos livros, nos filmes, nos meus poetas favoritos, nas cervejas de domingo. Hoje eu vejo e sinto você em tudo. Na minha pele, nas minhas roupas, no meu cabelo, nos nossos livros, nos nossos discos, nos nossos filmes.


(Então você liga. Está no meio do show do Caetano e diz que ele está cantando nossa música. E canta junto, e cantamos juntas e essa ligação toda que existe entre a gente tá longe de ter explicação)

E a gente até tenta achar alguma explicação pra todo esse tempo bom que de repente e não mais que repente vem se repetindo desde Abril. E há e não há. Acho graça das várias teorias que surgem enquanto o sol teima em entrar pelas brechas da porta do teu quarto. "(...)  já não tenho medo do mundo. (...) Mas você sorrir desse jeito e eu que já perdi a hora e o lugar, aceito". É isso. É bem simples. 

É como te disse, há coisas que tenho medo de dizer, de escrever. É um velho medo de perder. Só que tu me envolves de modo que posso derramar essas palavras no teu ouvido, no teu ombro, no teu peito e lá você cuida bem delas. E de mim também. E de nós também. 

Como diz uma velha amiga minha: "Agora eu sou feliz sendo plural".


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Coisas de sorte

Ver a lua crescente, em pé e de frente é sinal de sorte segundo minha avó. Ver você chegar sorrindo, com um copo de cerveja na mão, meio atrapalhada por causa da multidão é sinal de muita, muita, muita sorte.
Achar trevo de quatro folhas é sinal de sorte segundo muita gente. Não cheguei a achar você, mas morro de vontade de te esconder. Como é que pode, me diz? Como é que pode você existir? Não venha reclamar dos beliscões depois.
Olho grego espanta azar e outras coisas ruins, mas melhor mesmo é você que espanta todos os males e ainda me faz cafuné.
Dizem que amuleto em formato de elefante atrai riqueza, mas você é a única riqueza que me interessa.
Tem também aquela fitinha do Senhor do Bonfim e até tenho uma verdinha que ganhei de um amigo, queria que você fosse como ela:

estivesse o tempo todo comigo.

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Le Petit Soldat

Confesso que fiquei inquieta quando dissestes que não sabia nada sobre mim. Pensei nas cervejas, nos cigarros, nas músicas, comentários sobre livros, sobre filmes. Pensei em minha melhor amiga, nas cervejas, na chuva, em Novos Baianos, em

Meta

Amor

Fase.

Não sabia aonde você queria chegar.
A chuva caiu durante toda a noite, a conversa corria bem. Marcamos o teatro, mais cervejas, mais cigarros. Derramei sobre você minhas reclamações familiares, as vontades de domingo, o cansaço antecipado da segunda-feira e a preguiça de mais uma semana. Conversas e mais conversas, declamações dos meus poetas favoritos. Repassei por toda a minha mente o que já tinha mostrado pra você. Como pode não saber nada sobre mim?
Cozinhei lasanha, arroz com brócolis, mais cervejas, mais cafés, mais cigarros. Filmes que não conseguimos assistir inteiros. Citações favoritas. Meus melhores amigos. Cozinhei pra você. Cantarolei Chico, Caetano. Citei Fernando Pessoa. Dividimos cervejas, minha vida, cafés, meus melhores amigos. Ainda assim você parecia não saber nada sobre mim.
Almoços, filmes, lanches, cafés, teatro, shows, cervejas, beijos, abraços, citações, declamações e meus próprios textos. Eu estava em tudo. Eu estou em tudo. Eu estou nos meus amigos e eles em mim. Estou nos meus filmes favoritos, nas minhas músicas, nos meus livros, nas cervejas, nos cafés, nas lasanhas, nas flores de guardanapo, nas gargalhadas, nas birras, nas piadas e nos seus "erres".
E estou aqui tentando entender como você não consegue saber nada sobre mim.

- "Agora sim você tá me mostrando quem você é"

E nem era sobre mim que nós falávamos.

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Je suis imbécile



Je vois mes amis lisant Edgar A. Poe, John Fante, Murakami, Caio Fernando Abreu. Je les vois regarder des films d'Almodóvar, Lynch, Polanski, Godard. Reproduire dans leurs guitares et des tambours airs par Caetano Veloso, Edith Piaf, Radiohead, The Tincoãs. Mais aucun d'entre eux est proche de tout ce que vous êtes en mesure de me montrer dans une demi-heure. Je suis un imbécile.

Nous divisé cafés, des cigarettes, de la bière et des barbecue. Eh bien, à l'exception des cigarettes. Je suis un imbécile. Vous détestez cigarettes, mais il se trouve que j'ai vu un film qui parle de cigarettes et de cafés. Je te vois partout. Parties de la vie que partagé, un peu plus que nous le pensons être capables de se diviser. Nous avons échangé quelques messages cette semaine. C'était bizarre. Même avec un simple "bonjour" froid lorsque vous essayez de me montrer avec votre silence que les choses vont mal. Je suis un imbécile.

Vous avez écrit pour moi et j'étais muet.

Je suis un imbécile. Après tout ce temps sans le voir, ou ne sachant pas comment s'est passée votre journée. Je m'excuse et j'espère que ma visite à son domicile un le lundi vous faire joyeux.

Je sais, mon français est horrible. Je suis désolé.

À bientôt.

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Raspas e Restos

raspas e restos por Tê Noronha 

Eu sei. Fiquei de te mandar notícias e só tenho enrolado. É verdade, é tanta enrolação que até eu estou de saco cheio. Pensei em mandar um postal só com "Tudo de novo. Mas, nada de novo". Você entenderia na hora, mas não ficaria satisfeita sem os detalhes.
E até teve o tempo em que eu adorava contar os detalhes da minha vida, mas hoje tudo aparentemente se repete.
Fico em duvida se digo que o trabalho vai uma merda ou se vai de boa na maré. Bom, não vai. Até no trabalho eu tenho enrolado.
Eu só bebo e fumo. Só vejo o tempo indo embora e eu não faço nada. Meu chuveiro tá quebrado, fica pingando direto e nossa! Como incomoda! Mas preciso terminar essa carta. Pelo menos essa. Seu aniversário tá bem aí, juro que queria te encher com notícias boas, mas eu não fiz nada pra que as notícias boas acontecessem. Você sabe minha teoria. As coisas acontecem quando você faz algo. Seja lá o que for. Seja lá o que você for.
E eu não fui e não fiz. Daqui uns meses eu solto um "como sempre, só pra variar".
Meu computador pifou, então espero que você ainda lembre da minha letra e entenda esses garranchos. Mas em matéria de carta, pra mim tem que ser escrita mesmo. Pra você sentir quando escrevi tão rápido de tão empolgada que estava.
Mas agora você deve perceber pelas letras redondinhas o quão entediada estou. Só não faço corações no lugar de pingos nos 'is' que é pra não sacanear. Tou tentando terminar sua carta há quase duas semanas. Dei um tempo no café, exagerei na cerveja. Exagerei mesmo. Perdi meus óculos e a pasta do trabalho.
Não tinha documentos importantes, só uns rabiscos de crônicas. Meu livro nunca vai pra frente mesmo.
Domingo talvez eu vá à praia com o Vicente. Ele anda no mesmo marasmo que eu. Acho incrível ter trocados pra umas cervejas e até comprei uns livros.
Faz tempo que não leio como antes. Três ou quatro livros de uma vez.
Adiei a tatuagem de novo. Até lá, vou mudar o desenho mil vezes. Queria que você estivesse aqui pra me ajudar a escolher. É, eu sei. Você não ajudaria muito. Na verdade, me deixaria mais confusa.
No fim a gente acostuma, não é?
Ia escrever mais (quem sabe na próxima?), mas agora é hora da cerveja!




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A little more green




"as pessoas nos marcam, carnalmente, todos os dias, não é? 
metafórica ou literalmente. Às vezes de ambas as formas."


Os tempos bons estão nos matando. E quem se importa se não durmo há 36hrs? Quando essas mesmas 36hrs são preenchidas com abraços, Caetano sussurrando em meio à nossas mãos ao vento e a cerveja gelada na praia?
Quem se importa se estamos lendo o mesmo conto do Caio pela terceira vez? Quando esse mesmo conto virou um espetáculo teatral tão maravilhosamente cheio de referências que fazem parte de nossa vida, que estão em nossas peles e tornam nossas almas menos áridas a cada dia que passamos juntos.
Não vou me preocupar em ver que horas já fazem que estou sentada aqui.
O que importa é o que te faz abrir os olhos de manhã. E nem falo de faculdade, de trabalho, de programas de TV. Falo de toda essa gente que pouco a pouco gruda na nossa pele e que com o tempo, já não dá mais pra viver sem. É uma pulseira, é um carinho, é uma carta, é aquela mistura de cheiros que dá até ciúme se a gente sentir em outra pessoa.
O que importa é o que te quebra em duas cidades. Ou mais de duas, não ligo lá tanto pra número. O que importa é toda essa gente que rasga nossa alma a cada "eu lembrei de vocês em tal momento", a cada foto onde no lugar da gente tem um papel e um desenho horrível com nosso nome, a cada brinde dedicado, a cada vídeo feito às pressas numa madrugada bêbada, a cada sms de bom dia.
Deixa esse tempo bom nos matar, mas só se for com toda essa gente que não corre da raia à troco de nada.


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Doc.

A vida tem passado pelos meus olhos feito documentário brasileiro. Uma parte sobre o barulho do trânsito parado, as buzinas, o calor do asfalto, os grafites, pichações, moradores de rua, artistas de rua, aquelas pessoas que distribuem panfletos em troca de uma diária de cem reais. 
A outra parte é focada no meu caminho, as calçadas quebradas, com  lixos aqui e ali, os números das casas, as pessoas que passam por mim. 
Virei uma câmera sem querer. Ou talvez por querer mesmo. Apenas pra registrar e refletir sobre o que tem acontecido nos últimos dias. É um caminho solitário. Tenho estado muito tempo sozinha. Cansa.
Eu não sei dizer o que tem acontecido nos últimos dias. Minhas filmagens não voltam e provavelmente não voltam por serem um tanto doloridas ou cheias de sorrisos amarelos.
Nunca gostei da cor amarela. Exceto nas margaridas. Mas isso a gente releva e não dá lá muita atenção. Isso de ter a vida como documentário na própria mente é cansativo, você sabe o que vai acontecer a seguir, tem um roteiro que fica pronto sempre uma hora antes das gravações. A trilha sonora é impecável, encaixa com uma maestria que até assusta, arrepia.
Queria que essa visão de documentário passasse.
Afinal, "a gente não tem como saber se vai dar certo".

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recado

A gente tem dessas coisas, sabe?
De fugir de foto, de chuva, de vacina e amor mal-curado.

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Vida

"É na soma do seu olhar
que eu vou me conhecer inteiro
se nasci pra enfrentar o mar
ou faroleiro."

Chico Buarque













Você me deu a vida. A verdadeira vida. E mesmo sem perceber, sem pedir nada em troca. Filha do sol, algo assim.
Gosto de lembrar de vários momentos. Dos primeiros, dos mais recentes e até dos erros. Das falhas, das faltas. Daquele dia onde só você foi capaz de me reconhecer, de querer um abraço meu. De insistir, ouvir minhas histórias, minha piadas sem sentido e rir. Rir até chorar.
Gosto de te fazer sorrir.
Sabe porquê?
Você transforma tudo em luz. Você me transforma sempre em algo melhor. Umas palavrinhas, um desenho, um abraço, um sorriso, uma foto sonolenta. Qualquer coisinha.
Uma cerveja na orla ou antes do meio-dia.
Um abraço molhado na madrugada fria e as promessas que nunca foram ditas. A gente só sente. Às vezes dói, mas logo passa.
Hoje foi um daqueles dias onde a gente deseja não existir, onde parece que ninguém sentiria nossa falta. Foi quente, mas teve chuva. E nem vi, quando você acordou de novo a luz dentro de mim. Percebi já na metade desse texto. Meio doido, meio sei lá. Meio só quero falar.
E seja lá onde estivermos... Não. Limites. Isso não existe pra gente.
Eu tento escrever nossa história no teu quarto, nos meus rabiscos... Mas ela na verdade é coisa de pele. Na nossa pele um tanto queimada.
E o que importa nisso tudo é o que nos faz levantar de manhã. E contigo é sempre manhã. Filha do sol, algo assim.
Havendo tantas linhas imaginárias, concretas, sonhadas que nos ligam... E tantas surgem, como tu mesma disse uma vez, a cada dia.
É na falta de tempo que temos tempo pra nós. Pouca gente entende. Talvez só a gente entenda como isso funciona. Esse vira-tempo nos contratempos.
Perdi o fio da meada, acho que esqueci na tua casa.

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Televisão

ilustração: Conrad Roset

Negro. Seu olhar não desviava de mim. Raramente piscava e lentamente se movia. Cheguei a pensar que agia assim por ter medo de me perder de vista.
Branca. Sua pele com algumas pintas, tão macia... Parecia chamar por minhas mãos. A camisa não se importava em cair e deixar seu ombro nu, deixar todo o resto nu.
O quarto cheirava a desejo. Eu não atrevia me mover, você não parava de me olhar. Esse impasse não nos levaria a lugar algum.
Desliguei a TV e fui trabalhar.

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Nutella

 foto: Tê Noronha


Estou com saudades de nutella
Nua sob a luz da Lua cheia
Nua sobre alguma tela
Seja de Michelangelo
ou na minha cama de pernas abertas.

Do teu cálido murmurar
ao pé de meu ouvido
o quão doce é amar
o quão amargo é separar
e que nutella nunca pode faltar.

 

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Pulsar

Nossos espíritos queimam
Há tanta vida nas veias.
O mundo é daqueles que o amam
em qualquer lugar ou nas ameias.

São corpos pulsantes
São tempos amantes
São verdades constantes

O instante então vibra
o passageiro suspira
A vida efêmera  passeia
O mudar nos suspira

O trem segue o destino
Dos peregrinos loucos
Ávidos pelo saber. 



Por Ágda Santos, Éden Magalhães e Daniel Lira. 

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"Tenho amigos religiosos"


photo: Nathy


"O apego contracultural à mudança constante
 é algumas vezes confundido com 
modismo ou com aceitação de qualquer mudança."
Contracultura Através dos Séculos - Dan Joy e Ken Goffman 



Somos contraculturalistas.
Foi assim que comecei uma conversa com o único propósito de dizer, ou de tentar justificar a minha preguiça em ter algum relacionamento. Este individualismo que tenho deixado aflorar de modo tão natural quanto acender um cigarro durante uma conversa sobre o documentário do Pink Floyd ou Ratos do Porão. Em dizer que as drogas, tatuagens e bebidas... toda essa agonia e cultura fazem parte de mim. Não somente de mim, mas de meus amigos. E é tudo isso que nos une. Tudo isso e muito mais coisas que nem sabemos, só sentimos. Assim como sentimos o rio passar por nós durante uma tarde qualquer de domingo. 
Criamos nossa própria vida acima de qualquer convenção social e restrições governamentais, desafiamos o autoritarismo nos mínimos detalhes, temos liberdade de comunicação e pregamos isso.
Vocês tem medo de sentir. Falar já os faz tremer, que dirá sentir. Fico pensando como seriam se tivessem lido Admirável Mundo Novo do Huxley, ou 1984 do Orwell. Exemplos básicos. Talvez não mudasse nada. Vocês tem medo de sentir seja lá o que for. Está confortável no seu sofá, senhor? Quer mais uma xícara de café sem cafeína? Há alguns Dramin's na segunda gaveta à sua direita. Sempre à sua direita.
Tudo hoje é voltado para ser saudável, mas o exagero está visível por todo o corpo de todos. Há a sede que nunca passa e a fome que não cessa. Não importa o que se coma. Poucos sabem como aplacar isso.
Não, eu não sei. Minha fome é outra e sei lidar com ela.
Tudo tem ocorrido de modo natural, ou pelo menos estou tão anestesiada que não percebo o que me ocorre ao redor. Apenas sinto. 
Sinto as tradições indo embora. Estão na estrada, cheias de poeira e sem fé alguma nos olhos. Vocês as alimentam de modo fraco e escasso. Sem vontade. Uma mera obrigação já memorizada pelo cérebro. 
Por outro lado, há os que seguem certo hedonismo hippie, mas sem ter consciência dos princípios filosóficos do movimento. Consomem as plantas sagradas e substâncias químicas sem ter ideia de segurança ou de como aplicar ao cotidiano. 
Não me cabe dizer se é o certo ou errado. Experimentem vocês. 
Temos dívidas a pagar, uma universidade pra concluir, tantas graduações quantas forem necessárias para agradar aos nossos pais. Eles só querem o melhor, mas nós sabemos o que é melhor pra nós. Porém poucos conseguem sair do comodismo. Vocês tem medo de sentir. Tem medo de se sentir vivos.
Não é qualquer mudança, muito menos modismo.

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The Colored Night



photo: Spreading Wings Photography


Colors are the smiles of nature.
- Leigh Hunt



Ano passado havia um romance bem mexicano na minha vida. Talvez o fantasma dele continue rondando no meu ombro esquerdo até os fins dos tempos.
É difícil esquecê-la. Ou o que ela foi. É difícil não comparar com as novas pessoas que conheço e no fim, ninguém a supera. Hoje não resta mais nenhum amor, talvez rancor, cores. Sim, hoje restam cores. Cor de mel sob a luz do sol. E as cicatrizes nas coxas. Mas somente essas, eu espero.
Esse ano começo sozinha. Feliz com minha respiração, com meu novo irmão e meus cachorros. Sem qualquer euforia. Mas também sem uma completa tristeza. Apenas viva e tentando ficar viva. Os questionamentos só aumentam a cada ano assim como minhas rugas. As estrelas diminuem a cada dia. O tempo está mais curto a cada dia.
O meu espaço não se expande e as pessoas interessantes são cada vez mais raras.
Começo esse ano querendo apenas sentir o vento, o cheiro das flores, da grama, dos abraços dos meus amigos. Sentir o calor das luzes, contar estrelas cadentes e respirar bem fundo. No fim das contas, sempre queremos um ano diferente. E eles sempre são diferentes um do outro. Graças a cada um de nós. Não há entidades envolvidas aqui. Nós somos os deuses, mas tão esquecidos disso que precisamos criar outros. Mais arrogantes e cheios de enfeites.
Sem desculpas seguimos e sei lá pra onde seguimos.
Não vou dar nenhum conselho, procurem a serpente por aí. Esse é o ano dela.

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