Archive for janeiro 2013

Nutella

 foto: Tê Noronha


Estou com saudades de nutella
Nua sob a luz da Lua cheia
Nua sobre alguma tela
Seja de Michelangelo
ou na minha cama de pernas abertas.

Do teu cálido murmurar
ao pé de meu ouvido
o quão doce é amar
o quão amargo é separar
e que nutella nunca pode faltar.

 

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Pulsar

Nossos espíritos queimam
Há tanta vida nas veias.
O mundo é daqueles que o amam
em qualquer lugar ou nas ameias.

São corpos pulsantes
São tempos amantes
São verdades constantes

O instante então vibra
o passageiro suspira
A vida efêmera  passeia
O mudar nos suspira

O trem segue o destino
Dos peregrinos loucos
Ávidos pelo saber. 



Por Ágda Santos, Éden Magalhães e Daniel Lira. 

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"Tenho amigos religiosos"


photo: Nathy


"O apego contracultural à mudança constante
 é algumas vezes confundido com 
modismo ou com aceitação de qualquer mudança."
Contracultura Através dos Séculos - Dan Joy e Ken Goffman 



Somos contraculturalistas.
Foi assim que comecei uma conversa com o único propósito de dizer, ou de tentar justificar a minha preguiça em ter algum relacionamento. Este individualismo que tenho deixado aflorar de modo tão natural quanto acender um cigarro durante uma conversa sobre o documentário do Pink Floyd ou Ratos do Porão. Em dizer que as drogas, tatuagens e bebidas... toda essa agonia e cultura fazem parte de mim. Não somente de mim, mas de meus amigos. E é tudo isso que nos une. Tudo isso e muito mais coisas que nem sabemos, só sentimos. Assim como sentimos o rio passar por nós durante uma tarde qualquer de domingo. 
Criamos nossa própria vida acima de qualquer convenção social e restrições governamentais, desafiamos o autoritarismo nos mínimos detalhes, temos liberdade de comunicação e pregamos isso.
Vocês tem medo de sentir. Falar já os faz tremer, que dirá sentir. Fico pensando como seriam se tivessem lido Admirável Mundo Novo do Huxley, ou 1984 do Orwell. Exemplos básicos. Talvez não mudasse nada. Vocês tem medo de sentir seja lá o que for. Está confortável no seu sofá, senhor? Quer mais uma xícara de café sem cafeína? Há alguns Dramin's na segunda gaveta à sua direita. Sempre à sua direita.
Tudo hoje é voltado para ser saudável, mas o exagero está visível por todo o corpo de todos. Há a sede que nunca passa e a fome que não cessa. Não importa o que se coma. Poucos sabem como aplacar isso.
Não, eu não sei. Minha fome é outra e sei lidar com ela.
Tudo tem ocorrido de modo natural, ou pelo menos estou tão anestesiada que não percebo o que me ocorre ao redor. Apenas sinto. 
Sinto as tradições indo embora. Estão na estrada, cheias de poeira e sem fé alguma nos olhos. Vocês as alimentam de modo fraco e escasso. Sem vontade. Uma mera obrigação já memorizada pelo cérebro. 
Por outro lado, há os que seguem certo hedonismo hippie, mas sem ter consciência dos princípios filosóficos do movimento. Consomem as plantas sagradas e substâncias químicas sem ter ideia de segurança ou de como aplicar ao cotidiano. 
Não me cabe dizer se é o certo ou errado. Experimentem vocês. 
Temos dívidas a pagar, uma universidade pra concluir, tantas graduações quantas forem necessárias para agradar aos nossos pais. Eles só querem o melhor, mas nós sabemos o que é melhor pra nós. Porém poucos conseguem sair do comodismo. Vocês tem medo de sentir. Tem medo de se sentir vivos.
Não é qualquer mudança, muito menos modismo.

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The Colored Night



photo: Spreading Wings Photography


Colors are the smiles of nature.
- Leigh Hunt



Ano passado havia um romance bem mexicano na minha vida. Talvez o fantasma dele continue rondando no meu ombro esquerdo até os fins dos tempos.
É difícil esquecê-la. Ou o que ela foi. É difícil não comparar com as novas pessoas que conheço e no fim, ninguém a supera. Hoje não resta mais nenhum amor, talvez rancor, cores. Sim, hoje restam cores. Cor de mel sob a luz do sol. E as cicatrizes nas coxas. Mas somente essas, eu espero.
Esse ano começo sozinha. Feliz com minha respiração, com meu novo irmão e meus cachorros. Sem qualquer euforia. Mas também sem uma completa tristeza. Apenas viva e tentando ficar viva. Os questionamentos só aumentam a cada ano assim como minhas rugas. As estrelas diminuem a cada dia. O tempo está mais curto a cada dia.
O meu espaço não se expande e as pessoas interessantes são cada vez mais raras.
Começo esse ano querendo apenas sentir o vento, o cheiro das flores, da grama, dos abraços dos meus amigos. Sentir o calor das luzes, contar estrelas cadentes e respirar bem fundo. No fim das contas, sempre queremos um ano diferente. E eles sempre são diferentes um do outro. Graças a cada um de nós. Não há entidades envolvidas aqui. Nós somos os deuses, mas tão esquecidos disso que precisamos criar outros. Mais arrogantes e cheios de enfeites.
Sem desculpas seguimos e sei lá pra onde seguimos.
Não vou dar nenhum conselho, procurem a serpente por aí. Esse é o ano dela.

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