Archive for fevereiro 2013

Vida

"É na soma do seu olhar
que eu vou me conhecer inteiro
se nasci pra enfrentar o mar
ou faroleiro."

Chico Buarque













Você me deu a vida. A verdadeira vida. E mesmo sem perceber, sem pedir nada em troca. Filha do sol, algo assim.
Gosto de lembrar de vários momentos. Dos primeiros, dos mais recentes e até dos erros. Das falhas, das faltas. Daquele dia onde só você foi capaz de me reconhecer, de querer um abraço meu. De insistir, ouvir minhas histórias, minha piadas sem sentido e rir. Rir até chorar.
Gosto de te fazer sorrir.
Sabe porquê?
Você transforma tudo em luz. Você me transforma sempre em algo melhor. Umas palavrinhas, um desenho, um abraço, um sorriso, uma foto sonolenta. Qualquer coisinha.
Uma cerveja na orla ou antes do meio-dia.
Um abraço molhado na madrugada fria e as promessas que nunca foram ditas. A gente só sente. Às vezes dói, mas logo passa.
Hoje foi um daqueles dias onde a gente deseja não existir, onde parece que ninguém sentiria nossa falta. Foi quente, mas teve chuva. E nem vi, quando você acordou de novo a luz dentro de mim. Percebi já na metade desse texto. Meio doido, meio sei lá. Meio só quero falar.
E seja lá onde estivermos... Não. Limites. Isso não existe pra gente.
Eu tento escrever nossa história no teu quarto, nos meus rabiscos... Mas ela na verdade é coisa de pele. Na nossa pele um tanto queimada.
E o que importa nisso tudo é o que nos faz levantar de manhã. E contigo é sempre manhã. Filha do sol, algo assim.
Havendo tantas linhas imaginárias, concretas, sonhadas que nos ligam... E tantas surgem, como tu mesma disse uma vez, a cada dia.
É na falta de tempo que temos tempo pra nós. Pouca gente entende. Talvez só a gente entenda como isso funciona. Esse vira-tempo nos contratempos.
Perdi o fio da meada, acho que esqueci na tua casa.

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Televisão

ilustração: Conrad Roset

Negro. Seu olhar não desviava de mim. Raramente piscava e lentamente se movia. Cheguei a pensar que agia assim por ter medo de me perder de vista.
Branca. Sua pele com algumas pintas, tão macia... Parecia chamar por minhas mãos. A camisa não se importava em cair e deixar seu ombro nu, deixar todo o resto nu.
O quarto cheirava a desejo. Eu não atrevia me mover, você não parava de me olhar. Esse impasse não nos levaria a lugar algum.
Desliguei a TV e fui trabalhar.

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