Archive for 2015

Oi, fui pro Medium!

Isso mesmo!

Continuo escrevendo mas dessa vez aqui no https://medium.com/@agdala

O blog aqui vai ficar no ar enquanto o blogger quiser. Mas a autora aqui resolveu ganhar mais espaço. Então me acompanha e me compartilha por aí!

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Besitos!

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Sete Mil Vezes [1981]


Vai ver a explicação de todos aqueles nossos discos e livros misturados signifique a tentativa da vida ou destino, caso queira assim chamar, de nos manter nesse total compartilhamento inexplicável que o ser humano gosta de chamar de amor. Duas cervejas se foram para que todo esse pensamento pudesse sair em linha. Um pouco mais organizado do que os meus dias sem você.

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Sol Negro [1965]


A gente já se abraçou muitas vezes, fumou cigarro juntas, dividimos comida, você dividiu seu teto comigo e mais alguns abraços tortos porque naquele tempo a gente nem sabia se amar. Os anos vão passando e nós duas vamos crescendo, absorvendo e sendo absorvidas. Caminhando contra o vento e por caminhos diferentes, sem saber ao certo onde vai dar. A única garantia é que em alguma curva a gente se encontra e a conversa flui sem qualquer amargura.
Mês passado eu estava escrevendo sobre os 50 anos de carreira da Gal, não sei se tu lestes. Bom, buscando fotos no acervo da Gal, achei essa dela com Bethânia. É lindo ver essas duas. Toda uma vida, toda uma amizade. Cheia de encontros e desencontros, como elas mesmas dizem. Vi essa foto e percebi que nós duas não temos uma foto juntas. Mas não fiquei triste. Só bateu mais saudade. Um dia a gente registra.
A letra de Sol Negro é simples e pesada. Foi a primeira música que Bethânia e Gal gravaram juntas. Escolhi mais pela união da voz dessas duas que nós amamos. Podia colocar mais coisas que temos em comum aqui. De Chico Buarque a Clarice Lispector. Ou lembrar das suas almofadas de cones, das ligações que duravam horas até o sinal cair, de quando nos vimos pela primeira vez ao lado de uma estação de trem que se falasse teria muitas histórias pra contar.
Escrevo aqui sendo muito egoísta. Onde meu maior desejo é estar contigo, beber uma cerveja gelada e te declamar poemas como presente de aniversário. Fico devendo, mais uma vez. E em termos de despedida te peço que não esqueças, minha irmã, do carinho grande que tenho e que sempre te desejo saúde, luz, felicidade. E axé, minha nêga. Muito axé.

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Leve [1996]


Não lembro muito bem como cheguei a esse assunto mas quando falam que hoje é último dia de minha vida eu simplesmente vivo. Sem exageros ou paranoias. Em parte por não acreditar, em parte por ficar totalmente sem uma reação. A vida segue e você é um grão de areia (ou menos que isso) no universo.
A rua de casa vai ser a mesma rua, o bairro ou o churrasquinho da esquina. Aquela foto da Via Láctea com uma seta e a frase "você está aqui" em algum daqueles pontos brilhantes reflete bem isso.
Penso muito sobre as caminhadas. Não essas em prol de saúde. Pois saúde é a última coisa que busco. É muito mais fácil se destruir. Longas caminhadas.
Aquelas caminhadas pra economizar o dinheiro do ônibus, ou quando a possibilidade de caminhar pelo velho trilho de trem que corta aquele riacho faz todo o caminho ser mais interessante que qualquer conversa.
Caminhar até o túmulo de meu tio sempre que o coração aperta. Caminhar até o rio Branco quando preciso lembrar que a vida segue e que um dia preciso aprender a me perdoar. Um dia.
Caminhar sem preparo algum, com uma garrafa de tequila pela metade e o sol se pondo em nossas costas. Caminhar e empurrar a bicicleta junto de quem amamos. Fazer isso mil vezes. Caminhar todos os fins de semana até sua casa, fazer o caminho de coração aberto e confesso que às vezes a mente cheia demais. Caminhar pela trilha em Alto Alegre procurando aquele igarapé profundo onde nós duas íamos apenas molhar os pés por justamente não saber nadar. Nenhuma de nós duas.
Ir andando só pra almoçar junto. Ir andando porque o carro quebrou. Empurrar o carro que estava no prego. Andar de carro na velocidade de uma caminhada por causa de problemas técnicos. Te carregar nos meus ombros depois de uma tarde na escola. Apostar corrida pra ver quem abraça a mamãe primeiro.
Subir aquela serra com você. Subir a ladeira e ver o sol nascer ao chegar no topo, ao chegar na sua casa. Caminhar bêbada. Caminhar bêbada se apoiando ou sendo apoio.
Os primeiros passos.
Penso muito sobre caminhadas. A possibilidade de ir e voltar. A possibilidade de mais de um caminho. E mesmo sendo o mesmo caminho, cada caminhada será diferente. O sol, o céu, a terra e eu. Tudo muda aos pouquinhos. Num piscar de olhos ou em uma rotação completa.

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Terminal Alvorada


A vida segue um outro ritmo quando a gente se desliga de todas as cobranças acadêmicas. Mais uma vez paro no caminho para ver se é isso mesmo que quero, se é essa correria e competição sem fim. Se é essa busca por uma excelência que não passa de mediocridade repassada de geração em geração. Essa estabilidade que fica só no papel. Não existe estabilidade na cabeça, na alma (e por mais que eu negue, vivo procurando essa estabilidade). Mas o que importa é a casa, o carro, as viagens pra Europa, aquele monte de livro empoeirado dando um status de intelectual que só fuma maconha quando vai pra chácara nos feriados. Sinceramente já sonhei isso e hoje só me dá vontade de rir de tudo.
"O mercado é exigente, você tem que ter ensino superior, deixa de ser louca e termina logo isso."
Mas não é assim que a banda toca. Eu mandei a banda parar de tocar pra afinar os instrumentos.
Desde que entrei pra universidade bato o pé e levo tiro no peito por reclamar de temas batidos de monografia, dos artigos ridículos e copiados onde só se muda o título, dos debates que nunca foram debates, do comodismo dos alunos e dos professores, da falta de interesse em realmente ajudar a comunidade. Bato o pé e levo o tiro no peito por defender o que acredito e o que acho ser melhor, o que penso que pode ajudar a melhorar o ensino. Mas cansa, gente. Cansa e a gente fica doente. Cansa mais ainda quando a gente vai ficando sem apoio e foi assim que fiquei. O conselho que recebi foi de fazer qualquer coisa pra terminar logo. Bem assim. "A academia só quer saber se você sabe pesquisar, o tema do TCC não vai ser a pesquisa da sua vida". Olha, eu sei que não vai ser meu melhor trabalho, mas como querer continuar na pesquisa quando a única coisa que interessa é saber se você sabe seguir as regras da ABNT? Confesso que tentei aceitar isso de fazer qualquer coisa, mudar linha de pesquisa, esquecer senso crítico, repetir teoria que a meu ver já está derrubada faz tempo. Mas não deu. Não consigo ser como os 99% de alunos de Letras que a universidade forma todo ano sem senso crítico, que pagam para outras pessoas escreverem seus TCCs, artigos e que só querem o ensino superior pro próximo concurso do governo. Desculpa, mas não consigo. E foi uma coisa atrás da outra que cheguei a pensar que esse ano tá me obrigando a parar, pegar leve, repensar, escolher outros caminhos.
Dou aquela espreguiçada na rede, olho o céu azul, com nuvens aqui e ali. Olho pro Mia que anoitece comigo todos os dias. E a pesquisa? Pois é, taí.
Desconstruí a Literatura de um modo que ainda não consegui juntar as peças novamente. No começo deu uma agonia, fiquei sem saber o que fazer, o que falar. Escrevi um email gigante pra minha eterna orientadora e ela calmamente falou pra eu seguir meu tempo. Que eu iria me reorganizar e tudo iria se ajeitar. Ela passando por um momento difícil e ainda arranjou tempo para me fazer parar de correr sem rumo. Maravilhosa, dona C. Maravilhosa.
Estou tentando devagar essa reorganização. Depois da tempestade vem a calmaria, não é mesmo? Uns sonhos vão, outros logo chegam e tomam lugar. A vida segue sem alarde. O balanço da rede tentando acompanhar o compasso das nuvens, o meu respirar também.
A Literatura volta a ser um prazer e a Língua volta com toda sua ambiguidade de sabedoria e responsável pelos melhores prazeres terrenos.

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Teu capricho, meu despacho

Em toda essa tua ausência na mesa de bar
onde só a tristeza e saudade ocupam lugar,
Fiquei pensando em nossa prosa.
O tempo passava, a cerveja esquentava
e eu cada vez mais fria.
Mas tal frieza não me impede te de aconselhar:
 Deixa de ser frouxo e ama, rapaz!

Isso de amar pouquinho não rende.
Tu vê capricho onde eu só vejo despacho.
Essa dança de desencontros me dá agonia.
Onde já se viu amar assim, diacho?!
Eu um dia quis amar de pouquinho,
com medo de sujar os sapatos,
rasgar meu peito, doar coração.

Eis que certa amiga me disse:
— Ama como quem bebe vinho,
grandes goles pra refrescar,
a tontura envolvente, as palavras bobas,
roupas pelo chão.
No dia seguinte vem a ressaca
e a conta no balcão.




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Definição

Eu, toda prosa, li por aí
que tu queria ser poesia.
Ser correspondida em linhas rimadas.
A prosa corrida já não te contentava.
Com um sorriso de canto,
falei: — essa tá na minha lábia.

Mas não foi fácil como pensei.
Ismália louca mergulhou no mar
E eu não sabia nadar.
De longe observava
Seus estranhos casos,
rolos que eu torcia pelo azar.

Mas tenho meus truques:
Ofereci-me a te ensinar a voar.
Um risco alto, eu bem sei.
Porém cansei de enrolação.
Afinal, fostes bem clara:
"me pega de jeito ou larga logo a mão".


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Resposta Seca

Demorei a responder teu poema meloso
por medo de soltar palavras duras.
Tu fostes guiado por Neruda
Que em tão fervoroso amor
Acabou por enfim entregar-se sem pudor.

Amigo, palavras dóceis não te darei.
E nem dela deves esperar.
Sei que julgo e jogo alto
Mas dela nenhuma canção irá vingar.

Ela mesma se condena e só ela pode se salvar.
Tu escolhestes o mar de rosa
Onde só vais se espinhar.
Desgostosa eu acompanho
Esse jeito estranho que vocês tem de se amar.

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Hermosa


Te observo tentando absorver os mínimos detalhes, os pequeno traços, as pintinhas, os sinais de que há algum desejo ali por mim. Se teu suor, se tua saliva estão tão impregnados em mim quanto eu estou de desejo por ti. Será se essas palavras conseguem eternizar? Eu digo que não, que é pra gente viver mais. Igual a Mallu canta pro moreno dela. Mas é aquilo, meu amor. Vou bem devagar, vou sem cobrar. Gosto assim. Desse ritmo de botequim onde tu só me diz sim.
Vou te dando asas e assim tu sem perceber vai criando uma casa em meu peito. Respiro bem lentamente sem crer que depois de tanta ausência e tanta negação, a gente estava ali. Depois de muitos amores, muitos caminhos cheios de dores tu me ensina mais uma vez que o importante é viver. E cada dia vou dando uns suspiros escondidos, soltando uns sorrisos pela casa quando te vejo dançar do nada, sem música. Apenas pela vontade.
Esse romance que surgiu de olhares. É assim que lembro. É assim que permaneço. E é por isso que não canso de repetir no teu ouvido: "i can't take my eyes off you". Às vezes tu nem escuta, mas tudo bem. É só ver teu sorriso e pronto. Selado. Esqueço do mundo e até do chão. Saio voando por aí de tanta borboleta que há dentro de mim.
Como quem não quer nada e no fundo queria tudo, fui e vou me achegando. Com cuidado, com carinho, com açúcar e afeto. Vou tentando te ajudar no teu caminho e trilhando o meu também. Vou tentando fazer eles se cruzarem sempre, igual nossas pernas ficam quando vemos a luz do sol invadir o quarto. Vou seguindo e sentido que já não preciso mais procurar por aí... porque tu já me achastes aqui.

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De cigarro em cigarro


A gente se perde em muitas ruas. Literalmente ou não, continuamos a andar, sem rumo e sem pressa. Por mais que a boca teime em dizer que hoje o tempo voa, amor. Mas a única coisa que escorre pelas mãos é o pouco dinheiro que ganho e não sei administrar.
A gente busca muitas coisas também. As quais depois de cinco minutos perdem por completo o sentido. Não existe faculdade dos sonhos, viagem planejada, consulta com hora marcada ou o grande amor de uma vida. Existe isso que vejo nesse exato momento em que escrevo. Não tem sol, não tem lua e não vou rimar dizendo que a única luz que existe aqui é você. Porque não é, meu amor. Mas baixinho sussurro no teu ouvido que teu sorriso me ilumina, dá certo sentido na vida. E se te digo é porque naquele momento o é. As coisas ditas tem prazo de validade. Uma vez ditas e ouvidas, já não valem mais. E não adianta repetir. A sensação já é outra.
De cigarro em cigarro, Luiz Bonfá vai ficando com os dedos calejados de tanto repetir. Eu também fico cansada de ter que te esperar. Saio vivendo por aí. Sem pretensão de nada, arruinando qualquer esperança criada naquele momento do cigarro na madrugada. O silêncio, a fumaça e o olhar suplicante. Não preciso nem dizer o que é que me mata. Esse verão não fui nada doce. Não morri de amores e saio às vezes a questionar quando é que o arrebatamento vai vir.
Acho graça em dizer que tu feito Rita levastes tudo de mim. E no fundo eu sei que a verdade foi eu que te dei tudo e fiz questão de não pedir de volta. Hoje já não tenho mais nada a ofertar aos novos amores. Olhares suplicantes na madrugada, nunca aprendi a dizer não a eles e fui ficando, preenchendo essas lacunas de amor com trechos perdidos, escritos anônimos e copos vazios.
Queria ao menos sentir que tua ausência me rasga, dilacera a alma. Dizer que estou enchendo a cara, que perdi o emprego, que o peixinho dourado morreu, que cansei de te esperar. Tocar fogo nas tuas roupas, cortar teus livros, as fotos de domingo, os vinis do bazar judeu. Mas nada disso acontece.
Cada fim de noite eu chego em casa, luzes apagadas, a samambaia na varandinha. Tudo no mesmo lugar. Um dia tu aparece. Feito gata de rua vais chegar observando, sondando, cheirando tudo. E pouco a pouco se aproximando de mim. Com os olhos mansos, trazendo de volta minha paz. Aquele aconchego sem fim.

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take me out tonight

Nós estamos beirando o precipício. Do quê exatamente eu ainda não sei. Penso em você em várias horas do dia, e muitas dessas vezes é bem confuso. Uma hora tudo é proibido, o silêncio impera, você me olha de esguelha, feito cigana dissimulada. E é tão injusto dizer tudo que é pra ser dito. Os mundos parecem se multiplicar. As línguas se misturam e todas as bocas estão secas. Sem voz se quer para questionar.
Você volta e sinto a agonia da tua partida, já ali, pronta. Debaixo dos teus pés. Lembro logo de uma velha frase minha, algo como "passo a gostar como se ja tivesse perdido". É assim que me sinto contigo. Quando aceitei, vi que te perdi. Os mais confuso é que não há contagem de dias. Não há limites de dias pra você ficar, não há limites pra ficar fora. Não há contagens pra saber quando voltarás pra mim.
Caminho pelas ruas e várias vezes te vi por aí. Pensei em gritar seu nome, dizer que seu violão ainda está lá em casa, do mesmo jeito que você deixou. Pensei em chamar pra um café, uma cerveja, um vinho. Tanta sede e tudo sobre você.
Aos poucos vou tomando conta de teu ser. Tua pele, teu cheiro, teus beijos, suspiros e sussurros. Tudo o que posso guardar apenas comigo. Tudo o que só eu poderei saber. Tudo o que você não pode levar em meio a cada partida.
A meu ver tudo pode ser simples, mas tu e teus mistérios me deixam louca. E não adianta dizer que é por proteção. Eu sei. O abraço e beijo na nunca não é algo fácil de se esquecer quando Smiths toca ao fundo. Sempre suave, com risos tortos e as mais sinceras citações. Os complementos que ao caminhar perdida por essas vielas e acabei encontrando contigo. Ficaria por muito tempo apenas a olhar teus olhos, no mais velado silêncio, procurando qualquer vestígios de que tua volta será mais rápida que a última vez.

Todo precipício tem a sua beleza.

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Désespoir agréable

A vida inteira estive acostumada a resolver ou tentar amenizar minhas inquietações sozinhas. Digo inquietações que é pra vida não parecer tão problemática do que ela já é. Desde pequenas coisas, como por exemplo, o despertador. Nunca aprendi a lidar com ele. Acabava dormindo tensa por não querer acordar com aquele barulho aterrorizante. E é verdade quando digo que toda vez acordo antes do despertador. As raras exceções envolvem quando durmo com outra pessoa. Parece que deixo a responsabilidade pra ela de lidar com o despertador.
Poucas vezes esse contrato deu certo. Alguns dias. Nos restantes me batia um aborrecimento. Quando inventaram a porcaria da sonequinha de 5 minutos foi a minha morte. Você dorme e aí de repente vem o barulho. Daí você dorme e novamente o barulho. Não dá pra acordar de bom humor assim. 
Hoje achei aquele guardanapo que rabiscamos no bar. As tais combinações, pois dizer limites não te agradava. "Não há limites, Fernão". Sei que no meio das combinações tinha algo sobre proibir despertadores.
A primeira delas: nada de declarações. 
Era a que mais me afetava. Logo eu, acostumada a mimar em todos os modos. Só me era permitido tua pele. Ali eu poderia me declarar o quanto quisesse. Tu preferias sentir do que ouvir, do que ler.
Essa era a combinação máxima: sentir sempre.
E a gente sente tanto que chega a doer. Você encontrou um meio de entrar na minha vida tão sutilmente que já nem percebo mais quando estás passeando pelos corredores mais escuros de minha mente. A música é a chave. Sempre foi. É através dela que vou te conhecendo. Não é clara feito água, mas ajuda. Deixei o vinil do Erik Satie tocando, o mesmo que toca naquele conto do Caio Fernando Abreu que você leu pra mim. Não lembro o nome agora. Só lembro que me apaixonei mais quando você colocou esse piano suave ao fundo, acendeu o cigarro e começou a ler Caio no meio daquela tarde quente. 
É um daqueles momentos em que a gente se desliga do mundo e apenas escuta. O piano, sua voz, as palavras de Caio. Virou um mal costume que não conseguimos desfazer. Ler, fumar, música, nós. Estamos doentes e não somos nossa cura. E nem de longe queremos cura. A intensidade de sentir é o que move. E a gente se move bem devagar, tentando não levantar poeira, não chamar atenção. Mantendo as inquietações no peito e criando muitas outras. 

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Fatal


A tempestade chegou. Uma porrada de informação por todos os lados. Uma urgência em absorver tudo o que falas. 
És fatal. Também sei ser. 
Mas meu bem, a sinceridade que tenho contigo não é para assustar. Não é para afastar.
Começamos com um prazo de validade não determinado. Oficialmente não começamos nada. E ainda assim há muita urgência a todo momento que estamos juntas. Somos o pecado do mundo. Desse pequeno mundo até então desconhecido por nós. Se te falo de meus amores que já se foram não é para espantar. Aqui não há limites, podes chegar.
O encantamento não veio atrasado. Ele foi velado desde as primeiras palavras rimadas que me destes nas madrugadas ébrias e sóbrias também. Guardei este encantamento mal guardado. E se não falei foi por medo de perder essa sensação de urgência que sinto em te ter. Deixei pontas soltas pra te mostrar e te lembrar que não foi obra do acaso eu te procurar. Sendo esse tempo tempestade, se um dia ela acabar espero que não estejas tão longe.
Afinal, a gente não pode roubar o que já possui.

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A Gata em Prosa


Saber o peso das palavras incomoda. Saber que tu tens a mesma noção pesa mais ainda. De tudo que foi dito ou de tudo que ficou preso no olhar. Sério, sem rugas de riso ou choro. Fixo. Com respirações profundas e lamentações silenciosas acerca da distância que sempre castiga.
Atiramos flechas ao horizonte e cruzamos os dedos para que algumas tenham caído no mesmo lugar. Quem sabe um dia a gente termine o café em silêncio e sem correria. Só é difícil prever se algum dia irei parar de dizer teu nome completo sem algum resquício de fascínio, se irei parar de olhar pra tua boca sem desejar beijar e sussurrar versos que não me pertencem.
A gente tenta fugir dos clichês mas eles são tão inevitáveis quanto usar surreal numa frase. Ou tão inevitável quanto pitu e limão no fim do mês.
É muito difícil esconder nessas palavras o encanto que tenho por ti. Esse encanto que só o álcool liberta naquelas noites mais loucas. E a gente se esconde, engole álcool e palavras que é pra não machucar mais do que já nos machucamos nessa vida toda sem qualquer culpa acumulada. Faz da noite o único domínio onde tudo é permitido e ao sol nascer não tem café amargo que desenrole conversa sobre as marcas que você deixou pelo meu corpo ou frases que deixei rabiscadas nas tuas costas.
Engasgo, dou um abraço com aquele tapinha ridículo nas costas e vou embora sem olhar pra trás. Soco bem fundo da alma qualquer vontade de puxar conversa contigo. Encarno qualquer cretina e sigo caminhando com o copo cheio de vinho suave numa tentativa infantil de te provocar. Sei que não engano nem meu próprio reflexo e aqui as palavras não tem peso algum pois estou afogada.

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