Duas mesas, uma em frente à outra. Era uma sala pequena, apenas uma janela, pela qual nem se dar pra sonhar. Era um fim de tarde. Fim de expediente. Faltava apenas um cliente ser atendido. O clima estava seco. O silêncio e a desconfiança eram os chefes ali.
A campainha soou. Nenhum olhar trocado.
E então, a sala pareceu insuficiente para aquelas três pessoas. Os diálogos eram rápidos e formais. Nenhum olhar trocado.
― A senhora pode me ver a cópia do contrato?
― O senhor vai querer apenas a cópia?
Eram três pessoas, e apenas uma tentava captar algo além das falas submersas em um mundo cinza. Duas mulheres, mãe e filha – chefe e subordinada -, e um homem, o cliente.
A jovem observava tudo atentamente, com tal interesse que pode ser comparado a uma devoção a um deus. Mas lhe faltava algo.
Nenhum olhar trocado.
Aconteceu muito rápido. Todas as informações conferiam. Faltava apenas a confirmação.
E ocorreu, como qualquer outra coisa extraordinária, entre um piscar de olhos.
Eles se olharam.
Primeiro os adultos, depois mãe e filha, e a seguir, o homem e a jovem.
Tudo se confirmou. Nenhum olhar trocado. Nenhuma palavra foi preciso ser dita. Fim. Acabou. A vida deles continuou a mesma. O silencio e a desconfiança continuam sendo os chefes. E o segredo da traição jamais será revelado.
Porem, os olhos jamais deixaram de ser os delatores.