Sol Negro [1965]


A gente já se abraçou muitas vezes, fumou cigarro juntas, dividimos comida, você dividiu seu teto comigo e mais alguns abraços tortos porque naquele tempo a gente nem sabia se amar. Os anos vão passando e nós duas vamos crescendo, absorvendo e sendo absorvidas. Caminhando contra o vento e por caminhos diferentes, sem saber ao certo onde vai dar. A única garantia é que em alguma curva a gente se encontra e a conversa flui sem qualquer amargura.
Mês passado eu estava escrevendo sobre os 50 anos de carreira da Gal, não sei se tu lestes. Bom, buscando fotos no acervo da Gal, achei essa dela com Bethânia. É lindo ver essas duas. Toda uma vida, toda uma amizade. Cheia de encontros e desencontros, como elas mesmas dizem. Vi essa foto e percebi que nós duas não temos uma foto juntas. Mas não fiquei triste. Só bateu mais saudade. Um dia a gente registra.
A letra de Sol Negro é simples e pesada. Foi a primeira música que Bethânia e Gal gravaram juntas. Escolhi mais pela união da voz dessas duas que nós amamos. Podia colocar mais coisas que temos em comum aqui. De Chico Buarque a Clarice Lispector. Ou lembrar das suas almofadas de cones, das ligações que duravam horas até o sinal cair, de quando nos vimos pela primeira vez ao lado de uma estação de trem que se falasse teria muitas histórias pra contar.
Escrevo aqui sendo muito egoísta. Onde meu maior desejo é estar contigo, beber uma cerveja gelada e te declamar poemas como presente de aniversário. Fico devendo, mais uma vez. E em termos de despedida te peço que não esqueças, minha irmã, do carinho grande que tenho e que sempre te desejo saúde, luz, felicidade. E axé, minha nêga. Muito axé.

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1 Response to Sol Negro [1965]

  1. nega nega neguinha
    nega nega neguiha
    nem Zumbi impedia você de ser minha