Os Delatores

Duas mesas, uma em frente à outra. Era uma sala pequena, apenas uma janela, pela qual nem se dar pra sonhar. Era um fim de tarde. Fim de expediente. Faltava apenas um cliente ser atendido. O clima estava seco. O silêncio e a desconfiança eram os chefes ali.

A campainha soou. Nenhum olhar trocado.

E então, a sala pareceu insuficiente para aquelas três pessoas. Os diálogos eram rápidos e formais. Nenhum olhar trocado.

― A senhora pode me ver a cópia do contrato?

― O senhor vai querer apenas a cópia?

Eram três pessoas, e apenas uma tentava captar algo além das falas submersas em um mundo cinza. Duas mulheres, mãe e filha – chefe e subordinada -, e um homem, o cliente.

A jovem observava tudo atentamente, com tal interesse que pode ser comparado a uma devoção a um deus. Mas lhe faltava algo.

Nenhum olhar trocado.

Aconteceu muito rápido. Todas as informações conferiam. Faltava apenas a confirmação.

E ocorreu, como qualquer outra coisa extraordinária, entre um piscar de olhos.

Eles se olharam.

Primeiro os adultos, depois mãe e filha, e a seguir, o homem e a jovem.

Tudo se confirmou. Nenhum olhar trocado. Nenhuma palavra foi preciso ser dita. Fim. Acabou. A vida deles continuou a mesma. O silencio e a desconfiança continuam sendo os chefes. E o segredo da traição jamais será revelado.

Porem, os olhos jamais deixaram de ser os delatores.

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17 Responses to Os Delatores

  1. Rogerio Lima says:

    Putz!!! Adorei como vc colocou todos os detalhes do que estavam ocorrendo na sala, esse texto me prendeu a atenção... E o final foi ótimo, como um olhar pode dizer mais que as palavras!!!

  2. Unknown says:

    você é bem detalhista,parece um quase texto naturalista,de um autor que eu esqueci XD

    ele detalha muito,chega a ser chato, 8 paginas pra descrever a luta de duas prostitutas nas ruas de paris xD

  3. Rafael says:

    Tenho que dizer que estou pasmo. Só. Você fez uma coisa dificílima, e eu te invejo.
    Só não consigo traçar um paralelo com sua situação atual (em relação ao tcham da histoira. Deve ser porque não existe um (?).

    Eu não tenho palavras pra dizer o quanto gostei. =O
    Isso ainda tem que ser famoso. =/
    Beijos, carol. =*

  4. Anônimo says:

    Mistérios,
    dificil que não se prenda a um texto assim!

    Adoorei!

    Beijinhos =**

  5. Eduardo says:

    É incrivel como ainda me surpreendo com você.
    Mistérios. Aliás, é o primeiro texto de mistério seu que leio.
    Lindo demais! auhuah

  6. Não sei porque, mas sua maneira de narrar um tanto misteriosa e ao mesmo tempo rica em detalhes está me lembrando um pouco Lydia Fagundes Telles, que por sinal escreveu alguns de meus contos favoritos.
    Você realmente conseguiu prender minha atenção e minha curiosidade.
    Parabéns, muié!
    Fica com Deus.

  7. Mariana says:

    Não conheço o romance, mas pelos presentes comentários, você pôs detalhes que você mesma escreveu. E realmente eu pude entrar dentro da cena, e como num filme, pude ver todos os detalhes de uma sala de negócios. E eu não conheço o conto.

  8. Boa descricão da cena. Realmente deu pra entrar no texto.

    Mas confesso que tive de ler uma segunda vez para entender a essência do final.

    Muito bom!

    Bjos

  9. Raiana Reis says:

    Uma bela narrativa e subjetividade entrelaçando o texto! Encantador, texto para ser 'trelido' e sempre uma nova interpretação! Parabéns pela criatividade e principalmente pelo dom sensível de sua composição!
    Me visita
    www.tocou.blogspot.com
    www.raianareis.blogspot.com

  10. kra que seuspense!!!
    ufa li ansiosamente até o fim
    mas confesso que o desfecho nao ficou muito claro pra mim
    mas foi legal

  11. Anônimo says:

    Gostei muito da forma que vc conta o texto com todos os detalhes informando tudo direitinho, essa parte me chamou muito atenção e mostra do cuidaddo que vc tem com narrativa da história (A jovem observava tudo atentamente, com tal interesse que pode ser comparado a uma devoção a um deus. Mas lhe faltava algo.)

    Gostei muito também do post > Coisas de uma pseudo-outsider

    BLOGdoRUBINHO
    www.blogdorubinho.cjb.net

  12. Antonoly says:

    Os olhos são o
    espelho da alma!

  13. Sim, é possível se comunicar sem dar uma palavra ou mudar a expreção facial: os olhos!
    Perfeito, Ágda, perfeito. ;)

    www.hoppipollablog.blogspot.com

  14. Gosto do jeito que você escreve. Porque você diz e rediz e sempre conta algo diferente, entende? rsrs
    Bem...ia ser legal fazer um conto-duplex com você nessas férias.

    O que acha?

  15. òtimo e super bem colocada as palavras .. fiquei com vontade de mais .. rsrs

    parabéns!!

    Abç.

  16. Ágdaaa...
    Tem selo p/ vc no Hoppípolla. o/
    Vah lah buscar. =)

    www.hoppipollablog.blogspot.com

  17. Intrigante ...