A Gata em Prosa


Saber o peso das palavras incomoda. Saber que tu tens a mesma noção pesa mais ainda. De tudo que foi dito ou de tudo que ficou preso no olhar. Sério, sem rugas de riso ou choro. Fixo. Com respirações profundas e lamentações silenciosas acerca da distância que sempre castiga.
Atiramos flechas ao horizonte e cruzamos os dedos para que algumas tenham caído no mesmo lugar. Quem sabe um dia a gente termine o café em silêncio e sem correria. Só é difícil prever se algum dia irei parar de dizer teu nome completo sem algum resquício de fascínio, se irei parar de olhar pra tua boca sem desejar beijar e sussurrar versos que não me pertencem.
A gente tenta fugir dos clichês mas eles são tão inevitáveis quanto usar surreal numa frase. Ou tão inevitável quanto pitu e limão no fim do mês.
É muito difícil esconder nessas palavras o encanto que tenho por ti. Esse encanto que só o álcool liberta naquelas noites mais loucas. E a gente se esconde, engole álcool e palavras que é pra não machucar mais do que já nos machucamos nessa vida toda sem qualquer culpa acumulada. Faz da noite o único domínio onde tudo é permitido e ao sol nascer não tem café amargo que desenrole conversa sobre as marcas que você deixou pelo meu corpo ou frases que deixei rabiscadas nas tuas costas.
Engasgo, dou um abraço com aquele tapinha ridículo nas costas e vou embora sem olhar pra trás. Soco bem fundo da alma qualquer vontade de puxar conversa contigo. Encarno qualquer cretina e sigo caminhando com o copo cheio de vinho suave numa tentativa infantil de te provocar. Sei que não engano nem meu próprio reflexo e aqui as palavras não tem peso algum pois estou afogada.

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