Janeiro Triste



- O chá acabou. Vou fazer mais. Queres?
- Não, não. Fica aqui comigo. Tá frio e se tu fores, vai perder o pôr do sol.

Fiquei lembrando daquele Janeiro. Aquele em que muitos dias foram tristes e ainda assim a gente tentava ficar um ao lado do outro. Em alguma visão de fora, isso certamente seria ridículo, desnecessário. Afinal, porque fazíamos aquilo? Nos amávamos, ou nos amamos. Você certamente responderia isso.
Eu era (talvez ainda seja) boa em palavras. Você também. E eu me lamuriava pra você e sobre você. E você pacientemente escutava-me. Agora sinto até vergonha disso. Mas não sei bem o motivo da vergonha. Ou talvez nem seja isso.
Em um desses dias tristes de Janeiro, ganhei uma daquelas fitinhas que se costuma amarrar no pulso, e a cada nó se faz um pedido.
Conforme meu amigo ia amarrando, ia perguntando se eu tinha feito o pedido. Para os dois primeiros respondi automaticamente que sim, para o ultimo me veio teu nome à cabeça. Como te falei no primeiro dia desse Janeiro triste: Amo seu nome, é lindo. Dá vontade de sempre ficar repetindo-o bem pertinho do seu ouvido. E lá, no terceiro nó ficou o teu nome.
Usei várias dessas fitinhas. Alguns desejos realizaram-se, de fato. Era divertido lembrar.
E agora, olho para a fitinha no meu pulso direito e lá está ela, firme e forte. Nenhum desejo realizado. E teu nome continuava lá. Firme e forte.
Mas eu se quer fizera um desejo. Apenas me veio o teu nome e pronto, ele já havia finalizado o nó. E talvez tivesse até ultrapassado o limite de nós. Eu não sabia bem. Eu nunca sabia, na verdade. Eu só sabia que gostava de você e queria você. E era uma briga todos os dias. Gostar, não gostar, gostar... por fim.

E aí tu vem e diz que sou a única certeza que tens na vida.

Esse mesmo Janeiro triste, cheio de confusões bobas, fatos que não mereciam atenção, confissões bobas, confissões sérias... As minhas eram confissões sérias. As suas também. Eram, ao menos pra mim. E era sério, e era bagunça, e era drama e éramos nós. E você pacientemente escutava-me e docemente respondia-me. Jamais afastando-me, jamais magoando-me. E eu reclamando, mal sabendo que te machucava ao falar tudo aquilo. Mas a quem mais poderia falar?
Esse mesmo Janeiro triste trouxe de novo outra aproximação entre nós. Talvez eu precisasse daquilo ao menos uma vez por mês. Eu nem sei bem.
E Janeiro ainda nem havia terminado. Aquele ano mal havia começado e nós já queríamos fugir de todos, de tudo. Qualquer lugar servia.
Qualquer afago era aceito. Qualquer coisas que espantasse aqueles dias de Janeiro. Exceto as tuas palavras.
Não sei bem o que aconteceu ao pensar no teu nome no terceiro nó. Mas cá está você, ao meu lado. E se quer se dá conta de que o que escrevo é sobre você. Se quer se dá conta de aquelas tuas palavras salvaram aquele Janeiro.

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2 Responses to Janeiro Triste

  1. Morena, quando quiser fugir, venha para mim. Lembra das palavras, lembra do sentimento.
    " Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."

  2. Uma vez eu pedi por uma estrela cadente. Sempre tive curiosidade de saber como elas são de perto. Acho que pedir por um nome é algo tão abstrato quanto.

    PS: lindo.