Feliz Ano Velho

Por um acaso ou não da vida, nossa música começou a tocar assim que chegamos à festa. Ou seria apenas a música que elegi como nossa. Talvez o fato de eu ter repetido ela mais de 15 vezes ao teu lado tenha tornado-a assim nossa música. Não sei como minhas manias ainda não tinha nos separado.
Esperei você me chamar pra dançar, mas o convite não veio. Fui direto para o bar e pedi logo um shot de tequila. Você fez cara feia. Mas afinal, quem era o mais errado?
Eu, obviamente. Eu sempre fora a mais errada. Sempre reclamava de mundos e fundos, e então você apenas respirava bem fundo e me abraçava. Muitas vezes eu buscava te irritar com bobagens apenas pra te ver respirar fundo e vir me abraçar. Às vezes ou sempre, eu me pegava questionando o porque de você continuar comigo. Não era apenas sexo. Isso a gente pode ter com qualquer um. Mas aonde que você achava o algo a mais em mim?
Continuei sentada perto do bar, alguns amigos vieram me cumprimentar e então olhei pra pista de dança. Lá estava você dançando com uma garotinha. Ambos desengonçados.
Sorri. Pedi outro shot.
Eu nunca me acostumei com você, com seu silêncio. Mas me acostumei com seus carinhos, suas piadas, seus filmes e sua péssima escolha de X-Men. E seus abraços. Eu não saberia viver sem eles. Eu não saberia viver sem você. Logo você, que sabia lidar tão bem comigo, me conhecia (sim) bem melhor do que eu mesma. Como eu poderia ter me acostumado a tal ponto de mudar hábitos da minha juventude? Era sempre engraçado lembrar como começamos a nos envolver verdadeiramente. Será que podemos provar que era verdadeiro? Pelo menos pra nós dois. Pelo menos pra nós.
- Amor?
E então você veio até mim pela milésima vez. Ignorando a minha infração nas bebidas, ignorando seu esquecimento da nossa música, sempre ignorando tudo. Preferindo estar sempre de bem e me comprando com seus abraços. Totalmente irresístiveis. Totalmente tentadores. Totalmente imprevisíveis.
E as três palavras que aguardavam silenciosamente para serem sussurradas no teu ouvido. As três palavras que sempre que você me abraçava eu as repetia mentalmente. Teimava em ser a primeira a falar. Buscava mil desculpas para atrasar o momento de dizê-las. Escrevia-te poemas e dentro deles escondia elas, sendo assim meu modo de sussurrá-las para ti.
Meu medo, tu sabes, era ao declarar algo, e então o mundo fazer de tudo para estragar. E nós dois estávamos tão bem em nosso silêncio. Em nosso segredo das três palavras.
As doze badaladas soaram. Todos se abraçaram, brindaram, ouvia-se os fogos de artifício e eu estava no aconchego do teu abraço:
- Feliz ano velho, amor.
- Feliz ano velho, meu amor.

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1 Response to Feliz Ano Velho

  1. Juliana says:

    O silêncio tem múltiplos significados. Múltiplos sentidos. Múltiplos tons. Gosto do silêncio quando é confortável, e faz a gente se sentir envolta em algo macio, calmo e consciente. Algo muito parecido com amor...