Feliz Natal, J.

O sol nascia, mas mal o víamos. O céu nublado e a neblina solta na rua. Voltávamos de mais uma sexta-feira no Conjunto João XXIII. Eu já nem lembrava o que tínhamos feito exatamente ou cronologicamente durante a noite toda. Estava cansada e concentrava-me apenas no caminho da tua casa. Ainda havia uma ladeira enorme pela frente. Bricávamos de quem andava em linha reta, contávamos segredos, piadas, lapsos da noite passada e eu subia a ladeira de costas.
Você já estava acostumada com a subida, sabia de detalhes da rua que só com o tempo a gente percebe. Eu me acostumaria e sentiria falta dela nos meses seguintes; procuraria qualquer ladeira íngrime na minha cidade somente para subi-la e enganar-me por uns segundos achando estar indo pra tua casa.
Eu subia a ladeira de costas somente para olhar-te e ver os primeiros raios de sol iluminando teu rosto, dando um tom diferente aos teus olhos.
Nunca mais subi ladeiras de costas. Eu não tenho quem admirar e ninguém caminha comigo pelas ladeiras em troca de uma boa conversa.
Dias desses fez um ano que não te vejo e nem vejo aquele teu piscar de olhos ao pedir algo que me fazem rir. Suas tiradas sarcásticas, seus dramas, sua gargalhada, seus olhinhos fechados ao sorrir, seu jeito concentrado ao assistir algo que gosta muito, sua mania por talheres iguais, seus raros abraços...
Hoje subi mais uma ladeira, o sol nascia, a neblina ja desaparecia e eu sorria ao lembrar de ti.
Feliz Natal, J. Amo-te.

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1 Response to Feliz Natal, J.

  1. Juliana says:

    Revisitei algumas vezes essa madrugada em sonhos. Alguma coisa sobre a neblina, o conteúdo da conversa e a primeira vez que passamos juntas pelo Córrego dos Corvos...

    Feliz Natal, Agdala